quinta-feira, 30 de maio de 2013

A Igreja Reformada e o feriado de Corpus Christi

Manifestação Popular típica do feriado de Corpus Christi
O feriado nacional de Corpus Christi tem origem na data litúrgica do calendário da Igreja Católica Romana em que é celebrado o mistério romanista da Transubstanciação, crença na qual o pão (hóstia) e o vinho usados na Eucaristia (Santa Ceia ou Ceia do Senhor), se transformam no verdadeiro corpo material de Jesus Cristo, após a oração eucarística realizada pelo sacerdote. 

A Igreja Reformada, e as protestantes de maneira geral, não compartilham dessa crença e por isso não celebram essa data em seus calendários litúrgicos. No entanto é preciso entendermos como a família de igrejas reformadas crê na eucaristia, palavra de origem grega que significa "ações de graças". Há nas comunidades locais, especialmente naquelas que recebem membros oriundos de outros meios evangélicos, uma difícil compreensão das crenças reformadas dos sacramentos, do batismo, em maior grau, e da santa ceia. Muitos, orientados pela visão das igrejas batistas, em que a crença na ceia do Senhor restringe-se a celebrar uma ordenança meramente simbólica, não compreendem a visão Reformada de que a Santa Ceia é um meio de graça, pelo qual somos alimentados.

A visão calvinista do sacramento vê uma "presença real" de Cristo na ceia que difere tanto visão católica citada acima, e da ausência real de Cristo e da recordação mental do memorialismo zwingliano e seus sucessores. O pão e o vinho tornam-se o meio pelo qual o crente tem comunhão real com Cristo em sua morte e que o corpo e sangue de Cristo estão presentes para a fé do crente como realmente o pão e o vinho estão presentes aos seus sentidos, mas esta presença é "espiritual ", que é a obra do Espírito Santo. 

A Confissão de Fé de Westminster fala a respeito da crença Reformada do sacramento da ceia do Senhor no capítulo XXIX. Destaco a seguir os pontos V e VII:


V. Os elementos exteriores deste sacramento, devidamente consagrados aos usos ordenados por Cristo, têm tal relação com Cristo Crucificado, que verdadeira, mas só sacramentalmente, são às vezes chamados pelos nomes das coisas que representam, a saber, o corpo e o sangue de Cristo; porém em substância e natureza conservam-se verdadeira e somente pão e vinho, como eram antes.
Mt.26:26-28; I Co.11:26-28.


VII. Os que comungam dignamente, participando exteriormente dos elementos visíveis deste sacramento, também recebem intimamente, pela fé, a Cristo Crucificado e todos os benefícios da sua morte, e nele se alimentam, não carnal ou corporalmente, mas real, verdadeira e espiritualmente, não estando o corpo e o sangue de Cristo, corporal ou carnalmente nos elementos pão e vinho, nem com eles ou sob eles, mas espiritual e realmente presentes à fé dos crentes nessa ordenança, como estão os próprios elementos aos seus sentidos corporais.
I Co.11:28; I Co.10:16.


A real compreensão da nossa fé nos permite usufruir de todos os benefícios que recebemos ao tomarmos do corpo e do sangue de Cristo, os quais recebemos espiritualmente pela fé e por obra do Espírito Santo.

Este foi um dos assuntos que mais gerou polêmica durante a Reforma Protestante, e que impediu uma maior aproximação de Lutero e Zwinglio. Hoje muitos compartilham da crença calvinista da presença espiritual, mas talvez nos falte compreensão dela e de seus benefícios concedidos a nós. É por essa razão que o Consistório de Genebra não permitiu a Calvino celebrar a ceia do Senhor todos os domingos, como ele desejava, mas indicou que houvesse uma pausa maior entre a celebração da ceia para que todos se preparassem para esse momento tão importante na vida da Igreja. Compreender nossa fé é essencial para declararmos a verdade a todos aqueles que ainda a desconhecem. Que não sejamos indoutos acerca da nossa fé, mas sim estudiosos dela para sermos apologistas dos ensinamentos de Jesus.


William de Almeida Santos

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