quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Maria, Theotókos

          Para os evangélicos Maria, a mãe de Jesus é um tabu, por mais que se tente negar. Sempre que nos referimos a Maria, falamos dela com cautela, afinal, "pode parecer que estamos idolatrando-a",  pensamento que pode vir à mente de muitos de nós. Muitos evangélicos dizem que ela fora apenas a mulher que deu a luz a Jesus, outros gostam de ressaltar passagens como a de Marcos 3: 

33   Então, ele lhes respondeu, dizendo: Quem é minha mãe e meus irmãos?

34   E, correndo o olhar pelos que estavam assentados ao redor, disse: Eis minha mãe e meus irmãos.


para diminuir seu papel ou importância. Os que assim procedem demostram profundo desconhecimento da passagem, pois se o sentido fosse diminuir a figura materna, Cristo não teria honrado pai e mãe, sendo assim descumpriria um mandamento e teria pecado. Sempre que lemos a passagem parece-nos vir a mente uma expressão e entonação rude da parte de Cristo, porém se levarmos em conta a mansidão de Jesus, veremos que a passagem retrata mais uma forma que Ele usou, para falar de coisas grandes, ao povo que apenas entenderia por meio de coisas simples e cotidianas, como a família. Muitos de nós se esquece de textos como esses:     


Evangelho de Jesus, segundo Lucas

1.28   E, entrando o anjo aonde ela estava, disse: Alegra-te, muito favorecida! O Senhor é contigo.
1.30   Mas o anjo lhe disse: Maria, não temas; porque achaste graça diante de Deus.
1.42   E exclamou em alta voz (Isabel): Bendita és tu entre as mulheres, e bendito o fruto do teu ventre!



          Na Bíblia não encontraremos muitas referências sobre Maria, porém o que encontramos é precioso e suficiente para saber como falar sobre ela. Mas mesmo o que está na Bíblia é negligenciado por nós. Muitos personagens bíblicos recebem mais atenção do que a Bem-aventurada. Se perguntarmos quais as mulheres mais importantes ou que mais se destacam na Bíblia, com certeza ouviremos: Ana, mãe de Samuel, Débora, a juíza, Ester, a rainha, Rute, a moabita, Noemi/Mara, a amargurada, Miriam, a profetisa irmã de Moisés, até mesmo nomes como os de Jael, a heroína e Raabe, a prostituta que deu guarida aos espias de Israel, cujos relatos são mais escassos do que os de Maria, a agraciada. Se tivermos a oportunidade de nomear uma filha com um nome bíblico, dificilmente escolheríamos Maria e diríamos que o motivo da escolha é por causa do exemplo da mãe do Senhor. 

          Todas essas situações nos fazem pensar que mesmo que neguemos que o assunto seja um tabu, os fatos nos mostram que temos receio de falar sobre Maria, sem antes nos justificarmos e deixarmos bem claro que ela não é isso ou não é aquilo. Agindo dessa forma, deixamos de ver o que ela realmente foi.

          Não apenas em seu cântico, mas em passagens que nos passam desapercebidas como a do Evangelho de Lucas:

2.19   Maria, porém, guardava todas estas palavras, meditando-as no coração.     


que nos mostra que ela retinha os ensinamentos do filho para si, guardando-os no coração, como fazia o salmista e todo aquele que deseja não pecar contra Deus, Sl 119. 11.

          Ela era serva de Deus, como reconhece em seu cântico. Foi agraciada com uma bênção magnífica e sem igual, pois se Deus confiou a ela a vida de seu único filho, era porquê antes de os tempos eterno,s a escolheu para designar tão grande tarefa, portar o salvador, significado da palavra que dá título a essa postagem, Theotókos, que quer dizer literalmente "portadora de Deus", sendo o título que melhor a representa. 

          Seu cântico também diz: Pois, desde agora, todas as gerações me considerarão bem-aventurada. Lc 1.48. Sendo justamente nesse ponto que deixamos a desejar.

          Quantos menos aventurados não levam mais fama e nos envolvem mais do que a humilde serva do Senhor, Maria que alcançou graça perante Deus? Quantos maus exemplos nos servem de inspiração em contrapartida da benevolente e alegre Maria?

          A Bem-aventurada virgem Maria, nos ensina humildade, dependência, conhecimento da Bíblia, gratidão, amor, servidão a Deus, comprometimento, amizade, e sobretudo reconhece Deus como seu salvador. Esses bons exemplos se refletiram na vida de Cristo e de seus irmãos, entre os quais citamos Tiago e Judas, cujas palavras são mais conhecidas de nós. 

Cântico de Maria, o Magnificat - http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/6/6f/AmatnecksMagnificat.ogg


1.46   Então, disse Maria: A minha alma engrandece ao Senhor,


1.47   e o meu espírito se alegrou em Deus, meu Salvador,



1.48   porque contemplou na humildade da sua serva. Pois, desde agora, todas as gerações me considerarão bem-aventurada,



1.49   porque o Poderoso me fez grandes coisas. Santo é o seu nome.



1.50   A sua misericórdia vai de geração em geração sobre os que o temem.



1.51   Agiu com o seu braço valorosamente; dispersou os que, no coração, alimentavam pensamentos soberbos.



1.52   Derribou do seu trono os poderosos e exaltou os humildes.



1.53   Encheu de bens os famintos e despediu vazios os ricos.



1.54   Amparou a Israel, seu servo, a fim de lembrar-se da sua misericórdia



1.55   a favor de Abraão e de sua descendência, para sempre, como prometera aos nossos pais.

          Há muita coisa sobre Maria muito mal compreendida por nós. Uma delas é a famosa prece, que em seus primeiros versos não traz nada que entre em contradição com a Bíblia, pelo contrário, foi retirada dela. Os primeiros versos refletem a forma pré-Tridentina, ou seja, antes do advento da reforma protestante. A partir daí foram acrescentados versos que nada tem a ver com a Bíblia, não fazendo parte das tradições, ortodoxa, anglicana e luterana. Embora saibamos que o papel de intercessor é somente de Cristo, é importante sabermos que tais versos são bíblicos, não servindo como uma petição, mas sendo a proclamação de verdades bíblicas, onde Deus é exaltado, pois Ele é com ela e  Jesus é quem a faz bendita.

          Os reformadores não a negligenciaram, como podemos ver na citação feita por Calvino:

“Não podemos reconhecer as bênçãos que nos trouxe Jesus, sem reconhecer ao mesmo tempo quão imensamente Deus honrou e enriqueceu Maria, ao escolhê-la para Mãe de Deus”.
Calvino, Comm. Sur l’Harm. Evang., 20

          Que este diálogo tenha servido para nos fazer pensar e mostrar que as condutas erradas não nos devem impedir de agir da maneira correta, que as extravagâncias de muitos não nos impeça de aprender com aqueles que verdadeiramente serviram a Deus e que saibamos reconhecer um bom exemplo quando estivermos diante de um. Que o nosso conceito sobre Maria, não seja além nem aquém, mas que possamos enxergá-la à luz da Bíblia, com ela é.

          Termino essa postagem com este cântico sobre Maria entoado por Fernanda Brum.




*As leituras contidas no lecionário, referentes ao dia 15 de agosto são voltadas a figura da Bem-aventurada virgem Maria. 



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